O desporto, e em particular o futebol, há muito deixou de ser apenas um jogo.
É espectáculo, linguagem universal e ferramenta de mobilização social. O futebol profissional tornou-se um “soft power” com impacto cultural e político significativo.
Num tempo em que a emergência climática se impõe como o maior desafio contemporâneo, o sector desportivo permanece amplamente ausente da equação ecológica. Enquanto empresas e indústrias enfrentam exigências crescentes em matéria de sustentabilidade, o desporto de alta competição continua, por vezes, alheio à urgência ambiental.
A lógica do espectáculo parece sobrepor-se ao imperativo da responsabilidade. Assim, importa perguntar: deverá a sustentabilidade ambiental tornar-se critério obrigatório no licenciamento desportivo? Se há clubes despromovidos por incumprimento financeiro, por que não penalizar também quem falha no plano climático?
O desporto como espaço de responsabilidade ambiental
O artigo 165.º do TFUE reconhece o desporto como promotor de valores e coesão social, o que justifica a extensão desta responsabilidade ao domínio ambiental, até porque o desporto moderno ultrapassa a sua dimensão lúdica, assumindo-se como espaço de promoção da responsabilidade social em vários níveis e a favor de várias causas.
A pegada ecológica dos clubes não pode ser ignorada. Inspirados pelo imperativo ético de Hans Jonas, agir para preservar o futuro, os clubes devem adoptar práticas sustentáveis. A omissão ambiental pode comprometer a legitimidade (moral) desportiva e justificar uma reavaliação dos critérios de licenciamento, integrando o mérito ambiental como elemento normativo essencial.
Sustentabilidade e licenciamento desportivo
O modelo europeu de licenciamento, centrado na viabilidade financeira e na transparência, ignora ainda a sustentabilidade ambiental como critério vinculativo. A UEFA Sustainability Strategy 2030 marca uma viragem nesse sentido, embora ainda sem força jurídica obrigatória. Lançada em 2021, esta estratégia define metas ambientais claras, alinhadas com os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável e o Acordo de Paris. No entanto, a sua eficácia depende da transição de uma lógica programática para uma regulamentação vinculativa, com critérios mínimos obrigatórios de eficiência energética, mitigação de impactos e auditorias ambientais.
Um olhar para o futuro
O desporto não pode continuar indiferente à crise ambiental. Manter a neutralidade ecológica no licenciamento é perpetuar uma ficção incompatível com a realidade actual. A licença desportiva deve reflectir um compromisso com o bem comum: a sustentabilidade do planeta.
Como defende Hans Jonas, o novo imperativo é garantir a possibilidade do futuro. O futebol, com o seu alcance global, tem hoje a responsabilidade de liderar essa transformação.